sábado, dezembro 28, 2013

O angustiante "Ensaio sobre a cegueira"


Acabo de assitir, em DVD, a adaptação cinematográfica de "Ensaio sobre a cegueira", do escritor português José Saramago, o único prêmio Nobel de Literatura em língua portuguesa, até hoje. Estou tão chocada com a obra, que senti necessidade de compartilhar.
Foi o próprio Saramago quem melhor definiu seu texto, publicado em 1995 e traduzido para diversas línguas: "Este é um livro francamente terrível, com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento, e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."
Ao longo de sua vida, Saramago resistira em ceder os direitos sobre seus livros para o cinema.No entanto, em 2008, uma adaptação de Ensaio sobre a Cegueira foi lançada, dirigida pelo brasileiro Fernando Meirelles. O filme obteve mundialmente críticas mistas, dividindo opiniões. No entanto, o longa-metragem agradou Saramago imensamente. O escritor disse a Meirelles "estar tão feliz de ter visto o filme, como estava quando acabou de escrever o livro". Em outra declaração, ele disse que "agora conhecia a cara de suas personagens."
O autor faz uma intensa crítica aos valores da sociedade. A cegueira é usada como metáfora, que representa a escuridão que habita o interior do ser humano. A crise gerada pela cegueira coletiva leva á violência e total destruição dos valores e do respeito mútuo. Em "O Mal-Estar na Civilização", Freud conclui que "a evolução das sociedades humanas não é nada mais do que a representação do conflito entre os instintos de vida e de destruição presentes no homem", o que foi evidencializado nessa intrigante obra de Saramago.
De forma intensa e sofrida, são mostradas as reações do ser humano às necessidades, à incapacidade, à impotência, ao desprezo e ao abandono. Leva-nos também a refletir sobre a moral, costumes, ética e preconceito através dos olhos da personagem principal, a mulher do médico, que se depara ao longo da narrativa com situações inadmissíveis; mata para se preservar e aos demais, depara-se com a morte de maneiras bizarras, como cadáveres espalhados pelas ruas e incêndios; após a saída do hospício, ao entrar numa igreja, presencia um cenário em que todos os santos se encontram vendados: “se os céus não vêem, que ninguém veja”…

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