quarta-feira, janeiro 28, 2009

Réquiem para Isaac Benchimol


É muito difícil dar adeus a uma amigo querido. Hoje estou passando por essa dor novamente. Mesmo assim, sinto necessidade de contar para o mundo quem foi meu amigo Isaac Benchimol. Ele foi um vencedor: venceu a miséria, venceu a fome, venceu a seca do nordeste e todos os obstáculos que a vida lhe apresentou, só não conseguiu vencer a morte, e partiu "pro andar de cima" essa noite, num infarto fulminante, durante um jogo de futebol com amigos, aos 62 anos de idade.
Dr. Isaac era promotor de justiça e professor de Direito Penal, aqui em Goiânia. Destemido e esperto, como exige seu ofício, ele não tinha medo de ninguém e sabia viver. Tive o privilégio de conviver com ele durante todos esses anos de profissão.
Por um tempo, diariamente repetia-se uma cena hilária: eu subia ofegante as escadas da Associação do Ministério Público (onde fui assessora de comunicação, e ele diretor). Ao chegar no topo da escada, lá estava dr. Isaac sentado numa poltrona, tranquilamente fumando seus cigarros matinais.
Todos os dias eu lhe implorava para parar de fumar, e a resposta era a mesma: "Querida, você não fuma, tem asma e vive com falta de ar; eu fumo duas carteiras por dia, jogo futebol e tenho uma saúde de ferro". Hoje veio a resposta, velho teimoso!

De menino de rua à promotor de justiça

Isso mesmo, o elegante dr Isaac Benchimol foi menino de rua. Cearense, ainda criança mudou-se para Goiânia com os pais e os oito irmãos, fugindo da seca. Aos dez anos de idade, ele engraxava sapatos nas ruas, para ajudar no sustento da família. Mesmo assim, Isaac aprendeu ler e escrever, entretanto não podia frequentar a escola. “Na escola do mundo, não se tem opção. A prioridade é a sobrevivência, e nas ruas a tentação para praticar pequenos vícios era muito grande, mas consegui sofrear esses instintos”, dizia orgulhoso.

Antes de chegar no Ministério Público Estadual, Isaac Benchimol trabalhou como cobrador de ônibus, operário e mecânico, e foi trabalhando de dia e estudando à noite, que concluiu o segundo grau e fez curso técnico de contabilidade. Sempre apaixonado pelo futebol, chegou a jogar no Goiânia Futebol Clube, mas por pouco tempo, pois queria estudar mais.

Foi muito difícil concluir o ensino médio, mas para Isaac o curso técnico era pouco, seu sonho era fazer uma Faculdade. Com muito esforço, em 1971 entrou para o curso de Direito da Universidade Católica de Goiás. Trabalhava num escritório de contabilidade de dia e estudava à noite. Mas logo casou-se e teve que deixar a faculdade devido às limitações financeiras. Três anos depois, retomou o curso, sempre trabalhando como contabilista.

Casado, e os cinco filhos chegando aos poucos, Isaac conseguiu, com muito esforço, formar-se em Direito e passar na OAB. Somente algum tempo depois de formado, ele deixou a contabilidade para advogar. Mas continuou estudando e foi aprovado no concurso para promotor de justiça.

Mesmo sendo da minha altura (1,60 m), dr. Isaac carinhosamente me chamava de Baixinha. Sua voz ecoa na minha cabeça: "Tenha calma Baixinha, tenha jogo de cintura, tenha diplomacia, o jogo é sujo..."

E como o jogo é sujo! Assisti, horrorizada, um grupo de colegas do dr. Isaac tentando derrubá-lo, mas ele era forte e sabia se defender. Descanse em paz, guerreiro.

5 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia minha amiga!

Como estás hoje?

Alegra-te por teres tido o previlégio de teres tido como Amigo este Homem! Neste momento embora te doa o coração, ele segue a sua viagem pela Eternidade!

Beijo grande com muito carinho!

Anônimo disse...

Que história!!
E que herói!
O mundo precisa de saber que há pessoas assim,
que não são só os "maus" que chegam longe...
já te desafiei outras vezes...
porque não escreves a história deste teu amigo??
Merece.
Ele e o resto do Mundo...
hum?
beijos
(epa, o mundo está a ficar "apertadinho"...
mas não estás sozinha, ok?)

D.Ramírez disse...

É o maldito fumo..sei oq é isso pq era ignorante nessa parte tbm..lamentavel perda.
Quanto a nós, vamos combinar antes para não termos surpresas..rsrs
Beso

Anônimo disse...

Olá mana Zezé, há pessoas que são eternas e esta é certamente uma delas. Não morreu viajou, mas estará eternamente perto, porque dentro do teu coração e eternamente presente porque nunca o esquecerás, basta que vás lendo, relendo, recordando o homem que foi e a herança que deixou.

Beijo.

Anônimo disse...

Minha amiga,

Quero deixar uma frase que o d. Isaac sempe falava para mim:
..."Temos que enfrentar a morte, do mesmo jeito que enfrenamos a vida"...
Estamos todos sentidos com a perda terrena de nosso querido dr Isaac, mas tenho a certeza que la de cima ele continua olhando por todas as pessoas que um dia o fez amigo.
Deus precisa dos bons ao seu lado.

Abraços
Neuras