quarta-feira, janeiro 14, 2009

A igreja da minha infância


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“Papai-do-céu, eu nunca vou ser igual à música do padre Zezinho.
Eu nunca vou me esquecer da nossa amizade e nunca vou deixar de rezar e de conversar com o Senhor e com Nossa Senhora. Também nunca vou chegar em casa chateada e cansada.”


Essa foi uma redação que escrevi há exatos 32 anos atrás...
Na ocasião, eu fazia catecismo com a irmã Lúcia, uma freira paulina, de quase 80 anos de idade, à época. Eu freqüentava a igreja católica perto da minha casa, no bairro Bosque da Saúde (foto acima), na zona sul de São Paulo. Ali era a minha comunidade. Além das aulas de catecismo, nós cantávamos nas missas de domingo de manhã, celebradas pelo padre Freitas, um jovem muito bonito. Também tinha as animadas festas juninas e as quermesses. Eu participava de tudo, juntamente com as outras crianças católicas do bairro. A vida era uma festa!
Aprendíamos muito com a irmã Lúcia,uma velhinha magrinha,baixinha e super animada, uma educadora que entendia muito do universo infantil. Ela observava nossa vocação. Como sempre gostei de escrever, ela me incentivava ao máximo e me pedia para escrever sobre as letras das músicas que ensaiávamos para a missa, a maioria do padre Zezinho.
Também fazíamos passeios em chácaras e parques. E foi num desses passeios que conheci o padre Zezinho. Eu deveria ter uns 9 anos de idade. Foi paixão à primeira vista. Lembro que após o almoço ele tocou violão e cantou para a criançada. Cheguei em casa saltitante, contando as novidades para meus pais e minha avó.
Anos mais tarde, fui ao show do padre Zezinho, já aqui em Goiânia, não me lembro o ano, talvez no início dos anos 90. Foi no Ginásio Rio Vermelho, que estava lotado não só de católicos, mas também de pessoas de outras religiões.
Eu estava ansiosa para ver o ídolo da minha infância. E fiquei surpresa quando ele entrou no palco chorando. O padre Zezinho não conseguiu cantar a primeira música até o final, chorava muito. Então ele desculpou-se e explicou que havia poucos minutos que tinha sido avisado, por telefone, que a irmã mais velha dele havia morrido. Parece-me que ela escorregou no banheiro e bateu a cabeça, algo assim.
Nesse momento, me conscientizei de que o padre Zezinho é um ser humano, como eu e, pela segunda vez, me apaixonei por ele. Lembrei-me disso porque o vi hoje cedo na TV. Ele tem um programa, às 7h45 da manhã, na TV Aparecida, canal 20 da NET.
Infelizmente, a música do padre Zezinho estava certa: eu chego em casa chateada e cansada, e de rezar não tenho nem vontade. Muito antes daquele show aqui em Goiânia, eu já havia me afastado da igreja católica.

Há dois anos, andando sozinha pelo bairro da minha infância, fui até a igreja Nossa
Senhora da Saúde. Já fazia 25 anos que eu não ia lá. À medida que me aproximava, eu ia voltando no tempo. De repente, me deu a sensação de que era criança de novo e que encontraria todos ali, envolvidos nos preparativos da festa junina.
Quando cheguei à igreja, estava tudo fechado e não tinha ninguém. A porta da casa do meu Pai estava fechada. Sentei na escada e chorei desoladamente. Eu não tinha mais ninguém.

Maria da minha infância



Eu era pequeno, nem me lembro
Só lembro que à noite, ao pé da cama
Juntava as mãozinhas e rezava apressado
Mas rezava como alguém que ama
Nas Ave - Marias que eu rezava
Eu sempre engolia umas palavras
E muito cansado acabava dormindo
Mas dormia como quem amava

Ave - Maria, Mãe de Jesus
O tempo passa, não volta mais
Tenho saudade daquele tempo
Que eu te chamava de minha mãe
Ave - Maria, Mãe de Jesus
Ave - Maria, Mãe de Jesus

Depois fui crescendo, eu me lembro
E fui esquecendo nossa amizade
Chegava lá em casa chateado e cansado
De rezar não tinha nem vontade
Andei duvidando, eu me lembro
Das coisas mais puras que me ensinaram
Perdi o costume da criança inocente
Minhas mãos quase não se ajuntavam

O teu amor cresce com a gente
A mãe nunca esquece o filho ausente
Eu chego lá em casa chateado e cansado
Mas eu rezo como antigamente
Nas Ave - Marias que hoje eu rezo
Esqueço as palavras e adormeço
E embora cansado, sem rezar como eu devo
Eu de Ti Maria, não me esqueço. (padre Zezinho)

Um comentário:

Elaine Gaspareto disse...

Olá!
A porta da casa podia estar fechada, mas com certeza o coração do Pai nunca estará, independente de nossos caminhos...
Isso não é um consolo e tanto?