terça-feira, fevereiro 17, 2009

O livro da minha vida


Monteiro Lobato,
Quando minha mãe contou que estava grávida, meu pai profetizou: "vai ser menina, vai se chamar Maria José, como a avó, e vai ler o Sítio do Pica-Pau-Amarelo". No dia seguinte, ele comprou o livro do Sítio, que ficou guardado por seis anos.
Aprendi a ler e escrever com quatro anos de idade, e nunca mais parei. Escrever, para mim, é tão essencial quanto respirar.
O primeiro livro que li foi "O gato de botas", aos quatro anos. As letras eram imensas e tinha mais figura que texto. Dois anos depois eu já tinha lido dezenas de livrinhos e também já lia a revista "Recreio", sempre incentivada pelos meus pais.
Quando fiz seis anos, papai achou que eu já conseguiria entender o Sítio, então me entregou o presente há tantos anos guardado.

O Sítio do Pica-Pau-Amarelo foi o primeiro livro "grande" que eu li. Quase não tinha figuras, ao contrário dos que eu era acostumada a ler.
Mas, figuras pra quê? Se eu podia imaginar tudo o que estava escrito! Era incrível como eu podia visualisar as personagens e construir os cenários no meu imaginário!
Dois anos depois, aos 8 anos, já na terceira série do colégio, em São Paulo,  a professora Terezinha de Melo Pereira adotou o Sítio como leitura obrigatória. Então, o li pela segunda vez.
A dona Terezinha foi uma professora fantástica, que entendia muito do universo infantil. Ela me comparava à falante boneca Emília e fez a quarta profecia que se cumpriu na minha vida: disse à minha mãe que achava que eu seria jornalista... E mais, ela é de Taubaté, a sua cidade Monteiro Lobato! Até hoje lembro-me dela explicando que a palavra Taubaté significa "Rio das Borboletas".
A leitura do Sítio na sala de aula era assim: todos os dias, os últimos 20 minutos da aula eram para a leitura do livro. Cada dia um lia um trecho da obra em voz alta e o restante da turma acompanhava lendo em silêncio. E uma vez por semana, cada um escolhia uma passagem que foi lida durante a semana e fazia uma redação de 15 linhas sobre o tema.

Quando estávamos quase acabando nossa leitura coletiva, começou a passar o Sítio na televisão! Fiquei um pouco decepcionada, porque algumas personagens não eram exatamente como eu imaginara.
A primeira versão do Sítio-do-Pica-Pau-Amarelo apresentada pela TV Globo foi maravilhosa, mas as posteriores perderam o encanto com a troca dos atores.
Depois de tantos anos, dia desses vi um capítulo da versão atual do Sítio na TV. Sinceramente, aquilo está muito longe de ser o Sítio da minha infância.
A televisão "acabou" com a obra. Se bem que as crianças de hoje em dia também mudaram (e para muitoooooooo pior).
Monteiro Lobato, você acredita que as crianças de hoje não sabem brincar de faz-de-conta e não tem a menor idéia do que seja pirlimpimpim?
Monteiro, acabaram com a infância! É com tristeza que vejo crianças bem pequenas carregando celular e passando o dia no computador e a noite vendo programas de adultos na televisão...

Fico pensando, como alguém pode crescer sem saber brincar de faz-de-conta?
Que pais são esses que não ensinam os filhos a lerem o Sítio?
Me diga Monteiro, que graça pode ter a vida de alguém que nunca brincou de faz-de-conta? Que nunca imaginou o sabor dos bolinhos da Tia Nastácia? Que nunca se encantou com a sabedoria do Visconde Sabugosa? Que não conhece a Cuca e o Saci? Como pode existir alguém que nunca se divertiu com as danações da boneca Emília?
Hoje em dia é assim. As crianças já nascem adultas (e vazias, mal criadas, sem limites...) e quando crescem viram adultos vazios, insuportáveis e sem criatividade, porque não tiveram infância...
Você faz muita falta, meu grande amigo Monteiro Lobato.

13 comentários:

Nina disse...

Nossa, que coisa linda essa história com seu pai, ahhh se todos os pais fossem assim, que lindo!!!!

e ele tinha mt bom gosto, hein??? Monteiro Lobato era gênio! Concordo contigo, a primeira serie do sitio era maravihosa, mas o troca troca de atores era mt chato, por exe, a emilia pra mim a mais maravilhosa era a Renné, a narizinho tinha que ser a Rosana e o pedrinho so aquele menino lindo... a tia anastacia, o dona benta, enfim...


mas o legal é ver as historinhas do Lobato ainda vivas.

Anônimo disse...

Monteiro Lobato tb marcou minha infancia, e falo dele no meu post de hoje.
Um abraço

Meire

D.Ramírez disse...

Temos coisas em comum. É ate triste dizer, mas a coleção do sitio do picapau amarelo, a e b, obra completissima foi o unico livro q consegui ler do inicio ao fim, ainda pequeno. Li a coleção toda do a ao b.
Vou postar do sitio tbm. Pena, muita pena Monteiro ter escrito apenas em portugues, nao ido morar na frança ou estados unidos para assim darem mais valor a essa obra, que ainda bem, e menos mal, tivemos, nos os brasileiros a oportunidade de ler e conhecer. Aquela menininha boba, aquela la, acho q Pipi a menina das meias coloridas, ingles, acredito ter certeza ser copia mal feita da Emilia, uma boba, que faz mais sucesso que a adoravel Emilia...
Bela homengem a sua Zeze..adorei.

Besos

*Renata Gianotto disse...

Oi Zezé!

Monteiro Lobato foi capaz de transformar muitas infâncias. Pena que hoje em dia as crianças não se impressionam com coisas simples assim.

Um abraço!

Janaina Amado disse...

Vim conhecer seu livro preferido, Zezé. Lobato também fez a alegria da minha infância, com "O Sitio do Picapau Amarelo" e, também, com "Narizinho" . Gostei do seu blog! Abraço,
Janaina

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Zezé, que linda a sua história. Que pai sensacional o seu te incentivando desse jeito à leitura. Fiquei arrepiada. Adorei sua descricao. Sabe que quando vou ao Brasil trago muitos livros e muitos infantis tb. Aqui em casa temos Monteiro Lobato. As criancas conhecem O Sitio do Pica Pau Amarelo. Trouxe para eles o Sabugo e a boneca Emília e aqui em casa se fala muito português que é a língua da mae é claro, rs.

Olha, vou aproveitar e te convidar a fazer uma resenha num outro blog que tenho sobre livros:

http://www.elasestaolendo.blogspot.com/

Passe por lá para me confirmar.

beijao

Cristiane Marino disse...

Monteiro Lobato também faz parte da minha vida. Ótima escolha, lembro que li esse livro na infancia também.

Um gde beijo

Anônimo disse...

Eu amo Monteiro Lobato também, principalmente Reinações de Narizinho e Dom Quixote das Crianças. Sempre leio aos meus alunos.

Abraços, Michelle

Unknown disse...

Olá Zezé
Eu vi todos os capitulos do Sítio do Pica-pau-amarelo, mas não li o livro, mas lembro que eu adorava as estórias e ficava esperando ansiosa pela próxima.

Ótima escolha! parabéns!

Abraços

Maria disse...

Obrigada a todos pelos comentários, fiquei emocionada.
Meu pai foi mesmo um homem do tipo que não nasce mais...
Ele era alegre, brincalhão, charmoso, culto, muito inteligente e tinha pulso firme quando precisava.
Nas folgas, papai devorava livros e ainda tocava cavaquinho num grupo de chorinho.
Ele era instrutor de aviação, vivia com a cabeça nas nuvens rsssssssss.
Há 12 anos ele fez sua última viagem e nos faz muita falta. Procuro seguir suas lições de honestidade, dignidade e lealdade, o que nem sempre é fácil.
Zezé

Anônimo disse...

"O gato de botas"... também me lembro desse gato todo vaidoso :)

Susana Garcia Ferreira disse...

Amiga Zeze gostei dessas tuas memórias de infância.Eu também sempre gostei de ler,não são todos os estilos de livros mas sempre gostei de ler,e gostava de ver essa série do sitio do picapau amarelo na tv.Sabes quando era pequena mascarei-me de emilia do picapau amarelo,acho que também eu era parecida.
É verdade também o que dizes das crianças de hoje,só vem tecnologia,são malcriadas um pouco terroristas mesmo,adultas talvez não,tem é já alguns problemas de adultos,como depressões,ansiedade,lá gostam um pouco também de futebol ou de outro tipo de coisas sem ser tecnologia,mas depois pelo menos os rapazes querem todos ser o cristiano ronaldo e as meninas talvez algumas actrizes de hollywood.

Vanessa Anacleto disse...

Zezé, vim até aqui para pedir que escrevesse um texto inédito mas, ao reler vejo que ele é absolutamente perfeito. Seu pai foi seu Monteiro Lobato apresentando-o a vc. Pode republicar o post sim.

Abraço