sábado, abril 18, 2009

Monteiro Lobato na minha vida


Já vim ao mundo predestinada a ler "O Sítio do Pica-Pau-Amarelo". E a profecia se cumpriu duas vezes antes de virar seriado de televisão. A primeira leitura foi aos seis anos de idade, incentivada pelo meu saudoso pai, e a segunda dois anos mais tarde, conduzida pela inesquecível professora Terezinha de Melo Pereira, da terceira série.

Por onde anda dona Terezinha? Eu gostaria muito de reencontrá-la. Ela é de Taubaté, a cidade do escritor. Fui sua aluna na Escola Estadual Professora Maria Ribeiro Guimarães Bueno, em São Paulo, na região do Jabaquara, em 1976. Sei que ela já publicou alguns livros didáticos, mas na editora não souberam me informar o paradeiro dela, se bem que quem se mudou de São Paulo fui eu... coisas do destino.

A seguir, relato minha conviência com Monterio Lobato. Na verdade esse é o mesmo texto que publiquei na blogagem coletiva do livro da minha vida (dia 17/3). Coincidentemente, eu já havia escrito sobre o Monteiro Lobato, então resolvi aproveitar o mesmo texto, com a aprovação da Vanessa.

Monteiro Lobato,
Quando minha mãe contou que estava grávida, meu pai profetizou: "vai ser menina, vai se chamar Maria José, como a avó, e vai ler o Sítio do Pica-Pau-Amarelo". No dia seguinte, ele comprou o livro do Sítio, que ficou guardado por seis anos.
Aprendi a ler e escrever com quatro anos de idade, e nunca mais parei. Escrever, para mim, é tão essencial quanto respirar.
O primeiro livro que li foi "O gato de botas", aos quatro anos. As letras eram imensas e tinha mais figura que texto. Dois anos depois eu já tinha lido dezenas de livrinhos e também já lia a revista "Recreio", sempre incentivada pelos meus pais.
Quando fiz seis anos, papai achou que eu já conseguiria entender o Sítio, então me entregou o presente há tantos anos guardado.

O Sítio do Pica-Pau-Amarelo foi o primeiro livro "grande" que eu li. Quase não tinha figuras, ao contrário dos que eu era acostumada a ler.
Mas, figuras pra quê? Se eu podia imaginar tudo o que estava escrito! Era incrível como eu podia visualisar as personagens e construir os cenários no meu imaginário!
Dois anos depois, aos 8 anos, já na terceira série do colégio, a professora Terezinha de Melo Pereira adotou o Sítio como leitura obrigatória. Então, o li pela segunda vez.
A dona Terezinha foi uma professora fantástica, que entendia muito do universo infantil. Ela me comparava à falante boneca Emília e fez a quarta profecia que se cumpriu na minha vida: disse à minha mãe que achava que eu seria jornalista... E mais, ela é de Taubaté, a sua cidade Monteiro Lobato! Até hoje lembro-me dela explicando que a palavra Taubaté significa "Rio das Borboletas".
A leitura do Sítio na sala de aula era assim: todos os dias, os últimos 20 minutos da aula eram para a leitura do livro. Cada dia um lia um trecho da obra em voz alta e o restante da turma acompanhava lendo em silêncio. E uma vez por semana, cada um escolhia uma passagem que foi lida durante a semana e fazia uma redação de 15 linhas sobre o tema.

Quando estávamos quase acabando nossa leitura coletiva, começou a passar o Sítio na televisão! Fiquei um pouco decepcionada, porque algumas personagens não eram exatamente como eu imaginara.
A primeira versão do Sítio-do-Pica-Pau-Amarelo apresentada pela TV Globo foi maravilhosa, mas as posteriores perderam o encanto com a troca dos atores.
Depois de tantos anos, dia desses vi um capítulo da versão atual do Sítio na TV. Sinceramente, aquilo está muito longe de ser o Sítio da minha infância.
A televisão "acabou" com a obra. Se bem que as crianças de hoje em dia também mudaram (e para muitoooooooo pior).
Monteiro Lobato, você acredita que as crianças de hoje não sabem brincar de faz-de-conta e não tem a menor idéia do que seja pirlimpimpim?
Monteiro, acabaram com a infância! É com tristeza que vejo crianças bem pequenas carregando celular e passando o dia no computador e a noite vendo programas de adultos na televisão...

Fico pensando, como alguém pode crescer sem saber brincar de faz-de-conta?
Que pais são esses que não ensinam os filhos a lerem o Sítio?
Me diga Monteiro, que graça pode ter a vida de alguém que nunca brincou de faz-de-conta? Que nunca imaginou o sabor dos bolinhos da Tia Nastácia? Que nunca se encantou com a sabedoria do Visconde Sabugosa? Que não conhece a Cuca e o Saci? Como pode existir alguém que nunca se divertiu com as danações da boneca Emília?
Hoje em dia é assim. As crianças já nascem adultas (e vazias, mal criadas, sem limites...) e quando crescem viram adultos vazios, insuportáveis e sem criatividade, porque não tiveram infância...
Você faz muita falta, meu grande amigo Monteiro Lobato.

12 comentários:

Elaine Gaspareto disse...

Olá!
Zezé, que delícia de texto!
Quando você conta que seu pai comprou o Sítio e o guardou por tanto tempo, eu acho que já li isso, você já contou esta parte da história ou eu endoidei?
E quanta semelhança tem a sua professora com a minha!
Delícia ler coisas assim!
Beijos.

Maria disse...

Obrigada Elaine. Na verdade esse é o mesmo texto que publiquei na blogagem coletiva do livro da minha vida. Coincidentemente eu já havia escrito sobre o Monteiro Lobato, então resolvi aproveitar o mesmo texto.
beijo

Beatriz disse...

Elaine, adorei a predestinação. será? Acho que um escritor como lobato faz parte de uma espécie de alma coletiva e qdo nascemos eles encarnam na gente. Vc , em seu excelente post, toca em muitos pontos mas o que mais chamou minha atençaõ foi a sua decepção com a versão televisiva. Sou mais velha que vc. Li lobato e em minha casa era proibida a entrada da telinha. Mas, qdo meus filhos eram pequenos eu assistia com eles - qdo a Xuxa permitia- os episódios e pensava exatamente que as personagens na telinha , pra mim, além de se transformarem em outras, não tinham o mesmo encanto.
Parabéns, pelo postado.

Cláudia Mello Belhassof disse...

Adorei ler seu post e, principalmente, ver imagens da primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo! Eu amava assistir!

Obrigada. Beijocas!

Mari Amorim disse...

parabéns! A parte mais gostosa das blogagens coletivas talvez seja isto: a interação e a abertura do coração para lembrar, deixar fluir...é bom demais!
beijos
Mari

O Lacombe disse...

Hum, vou pensar muito no que voce escreveu...
abracos, Octavio

Anônimo disse...

Se a sua professora Teresinha for a mesma que publicou este texto - http://www.casadacultura.org/Literatura/Contos/gr2/contemplacao_terezinha.html - pode entrar em contato com ela. No final do texto tem o e-mail e da casa da cultura também. Acho que ela se mudou de São Paulo e agora mora em Pará de Minas.

Outro texto dela capturado na internet - http://fontedeluz.com/?ver=8&id=12

Boa blogagem! Beijus

Vanessa Anacleto disse...

Zezé, a organização do "evento" tomou um tempinho e não pude aparecer aqui antes. Muito obrigada por contribuir para o sucesso da coletiva.

Perfeito. Obrigada por abrilhantar a coletiva com seu texto.

Abraço

Gica , Caracolinhos disse...

Olá amiga zéze´,muito bonito o sitio do picapau amarelo ,também via quando era pequena e até me mascarei de Emilia do sitio do picapau amarelo rsrsrrs.
beijinhos.
passa lá neste blog que estou a fazer com a minha mãe.
mulheresabeiradumataquedenervos.blogspot.com

Marcia M. disse...

oi zezé eu ñ encontava mais este blog mais fuçando as postagens achei uma coisa sobre vc vai la no blog tem uma surpresa!

Impasse Livre disse...

Monteiro lobato é tudo de bom...é a inocência infantil..é a criatividade latente... é obra-prima e eterna nascente!parabéns , cheguei aqui pleos "meus pensamentos" e ficarei aqui sempre, viu? beijos, leandro

Sandra disse...

aria!
Visitei seu blo. Muito legal.
Foi atraves de meus pensamentos. A marcia é minha madrinha de blog. Deu toda um roupagem especila para ela.
Estou bem feliz por isso.
Abraços
Sandra