segunda-feira, julho 24, 2006

A beleza do rio que corre na nossa aldeia



Maria José Sá

Neste final de semana foi encenada em Goiânia uma obra-prima da dramaturgia brasileira, Rasga Coração – o último texto do dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho. Com o apoio da Brasil Telecom e do Projeto Goyazes - da Agepel, os ingressos custaram apenas R$ 10,00 e ainda tinha meia para estudante, R$ 5,00 - muito menos do que se gasta com espetinhos e cerveja em qualquer boteco da periferia que vive lotado...

A Cia. Teatral Martim Cererê, “goiana do pé rachado”, coleciona diversos prêmios ao longo da sua trajetória. As poucas pessoas que assistiram ao espetáculo puderam, mais uma vez, comprovar o talento da nossa prata da casa.

Quando entrevistei o ator Edwin Luisi, do elenco de A pulga atrás da orelha, comentei que a companhia de Marcos Fayad estava em cartaz com Rasga Coração, e o ator carioca exclamou: “Rasga Coração, do Vianinha? Então ninguém vai ver a minha peça!” Nota-se que ele não conhece este Goiás, que não valoriza seus artistas.

A trupe goiana estreou na sexta-feira, concorrendo com o show do Paralamas do Sucesso, e no sábado tinha A pulga atrás da orelha (uma dessas comédias caça-níqueis, cujo ingresso custava R$ 50,00). Talvez o público optou pelas outras atrações devido ao forte apelo comercial do merchandising, ou simplesmente por ignorância.

Estou cansada de ouvir que “em Goiânia nunca tem nada” etc e tal. Pois digo e assino em- baixo que aqui tem muitas opções culturais, como as peças e shows do Martim Cererê, cujos ingressos, geralmente, custam menos de R$ 5,00. Quando saem daqui, nossos artistas se destacam. O virtuose violonista Felipe Valoz e nosso cantador Francisco Aafa se preparam para uma temporada no Japão, no próximo ano.

Em todo o Estado temos uma infinidade de artistas anônimos esperando por uma chance. Já dizia o poeta que “O rio mais bonito é o rio que passa na minha aldeia”. Quando será que vamos enxergar a beleza do rio que passa na nossa aldeia?
* Artigo publicado no Diário da Manhã - DM Revista - em 8/4/2003

Um comentário:

Élcio R. De Sá disse...

Querida Zezé,
É a coisa do profeta que nâo o é na sua propia terra...
Passa aí e em todo lado.
Eu, que estou longe, tenho saudade do rio que passa na minha aldeia. Já sei que nâo é o mais bonito do mundo, mas é o do qual sinto saudade...!
Tudo de bom,
Élcio