Não há quem não solte boas gargalhadas quando tem uma drag queen por perto. Sem elas, a noite não seria a mesma. Agora, imagine um bando delas dançando quadrilha, com roupas típicas, noiva e tudo mais. Até São João se divertiu... Para estes artistas, tudo é festa. “A gente anima até velório”, diz Tyna Brazil, 23. Ao contrário do que muitos imaginam, as drag queens não são travestis. São palhaços caracterizados de mulher. São homossexuais, mas não se prostituem e têm parceiros fixos, como fazem questão de ressaltar.
Nas boates, as drags cantam, dançam e fazem o correio elegante, que funciona assim: quando uma pessoa gosta de outra que não conhece, manda um bilhetinho, que a drag entrega de maneira descontraída, promovendo o encontro. A empresária Regina Perri, proprietária da boate gay Jump, conta que o público adora as drags. “Elas animam as pessoas, brincam e têm fãs de carteirinha, embora o cliente normal prefira um ambiente mais intimista.”
Animação – Roberto Silva, habitué de boates gays, diz que gosta da animação dos artistas. “Só que quando acontece em excesso, atrapalha um pouco. Em outros Estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, as drags têm um repertório maior de brincadeiras e as piadas são mais inteligentes.”
A maioria das drag queens goianas tem formação teatral e faz parte do famoso show Ju Onze 24. Durante o dia, elas se vestem normalmente como homens, e trabalham. Alguns assumem a condição sexual, mas a maioria esconde da família. Conversamos com várias drags durante a festa junina na boate Jump, na madrugada do último domingo.
Eles dizem que têm a aura cor-de-rosa
“Sou homem, mas tenho a aura cor-de-rosa.” Assim se define Fryda Bomba, 23, 1,90m de altura. Durante o dia, ele trabalha como decorador e há dois anos faz parte do elenco do humorístico Ju Onze 24. Entretanto, Fryda não revela sua identidade, assim como a maioria das suas colegas. “Não quero expor minha família”, justifica. Tyna Brazil, 23, é drag há sete anos e a única desse grupo que assume a verdadeira identidade. “Também sou bailarino e faço o show do Ju há oito anos.” Durante o dia, Tyna se chama Anderson e trabalha como cabeleireiro e maquiador, e diz que gosta de animar a balada.
As drag queens ganham cachês (que não revelam o valor) para animar festas, boates, chás de panela, feiras de cosméticos e despedidas de solteiro. Samara Morgans, 22, é gerente administrativo de uma grande empresa. “Ninguém sabe que sou drag. Durante o dia, sou um homem normal. Eu freqüento boates gays há algum tempo e achava as drags interessantes. Trabalho num ambiente muito sério e aquela farra me animava. Para fugir do stress, resolvi explorar minha veia cômica, conversei com as meninas e resolvi ser drag. Estou feliz e me divirto muito.”
Alexya Rignatta, 22, conta que demora duas horas para se maquiar. “A pior parte é colar o cílio postiço.” Maquiagem e perucas extravagantes são fundamentais na composição do visual, assim como perfumes marcantes. Debochadas, elas contam que drag queen é uma personagem que não tem sexo. “Exploramos o lado cômico e não o sexual. O público jamais verá uma drag beijando na boca.”
Durante o dia, Yrana Smith, 22, é técnica de enfermagem em um grande hospital. “Minha mãe sabe que sou drag e acha legal. Ela até guarda fotos de shows. No meu trabalho, sou sério e muito profissional. Mas ser sério cansa, então resolvi ser drag queen para ser bonita.” Aryel Montila, 19, é cabeleireiro e virou drag há seis meses. “Minha família sabe por alto, mas finge que não sabe e prefere não comentar.”
A situação mais complicada é de Mary Kane, 21, drag queen há um ano. “Sou de uma pequena e conservadora cidade do interior. Meu pai é caminhoneiro, supermachista e ignorante, se souber que sou homossexual, e ainda drag queen, não tenho dúvidas de que ele me mata.” Mary estuda enfermagem e teatro, e garante que sua família jamais descobrirá sua condição. “Recebi uma educação muito rígida.”
Xantara, 33, é drag há nove anos e trabalha como cabeleireiro e maquiador. “Sou muito assediado e os homens confundem drag queen com travesti. Temos de deixar claro que não fazemos programa.” O estudante Leandro é freqüentador de boates gays e adora as drag queens. “Elas são tudo de bom. São o chamativo da boate. São animadas e divertidas, boate gay tem que ter a alegria e o colorido das drag queens.” (Maria José Sá)
Vocabulário gay
Babado: serve para quase tudo. Sexo, drogas, encontros, comida, música, conversa. Vale também para a célebre pergunta “Qual é o babado?”, no sentido de o que está acontecendo?
Barbie: corpo de Tarzan, cabeça de Chita. Gay bastante sarado, com corpo ultratrabalhado
Basfond (leia-se báfon): bagunça, confusão, baixaria, bochincho, barra pesada
BF: Bicha Fina ou Bolacha Fina. Homossexuais com mais de 30 anos, com dinheiro, chiques e freqüentadores de bons ambientes
Biba: homossexual masculino ou feminino
Bofe: homem másculo
Bofescândalo: homem gostoso
Bolacha: nome meigo para sapatão
Cascaboi: usada por gays mais velhos, designa aquele ser meio carrancudo, chato
Caso: namorado
Armário: enrustido. Sair do armário: se assumir
Sandália: a mulher da caminhoneira
Sapa, Sapata: diminutivo de sapatão
Caminhoneira: lésbica bem masculina
Drag queen: homem que se veste com roupas geralmente associadas ao sexo feminino, mas sem esconder que é homem, também associado a maior espalhafato
Drag king: versão feminina de Drag Queen, mulher que se veste de homem
Elza: roubo; dar a Elza: roubar
Susie: aquele rapaz que malha bastante, tem o corpo legal, mas não é grandão, bombado, não é barbie ainda
Entendido/a: gay/lésbica
Fechar: fazer sucesso
Lady: lésbica de aspecto feminino
Luxuosa: expressão de aprovação para alguém bem produzido, bonito
Meda: feminino de medo. Usado como interjeição para algo que não é agradável
Me erra!: me larga
Naja: fofoqueira, intrigueira
Sarado: malhado, marombado, com bom corpo
Sapatão: lésbica de aspecto masculino
Bagaceira: de baixo nível
* Matéria publicada no Diário da Manhã - DM Revista de 19/6/2003
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