segunda-feira, julho 24, 2006
Sensação flamenca
Maria José Sá
O espetáculo de música e dança Sensação Flamenca será exibido hoje, às 21 horas, no Teatro Vila Marista, do Colégio Marista. Uma oportunidade imperdível para os apreciadores da cultura espanhola. Diz a lenda que quem canta flamenco sente um gosto de sangue na boca. De acordo com a bailarina Yara Castro, “esse ritmo é o pulsar do coração de uma pessoa, de um povo. É uma expressão, um sentimento interior. É o sentir da alma, do espírito, do sangue, da voz que canta sua dor, sua alegria, sua paixão, suas penas. Manifestação de um corpo que baila na mesma intensidade da emoção e personifica a todo o momento aquilo que está em suas raízes mais profundas e íntimas – um grito de liberdade que jamais será perdido”.
O flamenco é considerado um conjunto de formas de expressões de uma cultura genuína e arraigada em Andaluzia. Manifesta-se, principalmente, por uma maneira peculiar de cantar, bailar e tocar guitarra. Nos bailes flamencos, os movimentos, atitudes e gestos são determinados pelo temperamento e pela arte expressiva de quem baila. No entanto, algumas normas básicas são observadas. Na técnica dos pés, por exemplo, podemos observar o sapateado com sons ritmados cheios de musicalidade. Os movimentos suaves e ligeiros produzem deslocamento com demonstrações habilidosas. Nos bailes femininos, as mãos movimentam-se em giros expressivos, que marcam as características primárias presentes neste tipo de baile.
No flamenco, o corpo traduz a dualidade de contrastes, marcada em posturas estáticas e em “paseos”, realizando movimentos de torções convulsivos e violentos, acompanhados por constantes movimentos de braços. Nos bailes femininos, as mãos e os dedos movimentam-se em giros expressivos, que marcam as características presentes neste tipo de baile.
História
A bailarina Yara Castro explica que “percorrendo tudo que há para ler e pesquisar sobre a origem do Flamenco e seu patrimônio histórico, ficamos inertes frente a tantas hipóteses levantadas para dar respostas à origem cultural dessa arte. As primeiras reuniões aconteceram em Triana, e eram feitas em tabernas e botillerias, no pátio interno, enfeitadas por plantas como costume de Andaluzia (limoeiros, laranjeiras, gerânios, e jasmim). Eram encontros de caráter familiar, popular, em palmas, animando os bailaores, entoando olés e jaleos. Era um mundo cerrado, oculto, intimo, sem influencia externa reservada a uns poucos”.
A difusão do Flamenco através dos cafés tomou proporções tão amplas, de tão grande aceitação, que era rara a província que deixava de contar com a existência de um café cantante. Nos últimos anos , os bailes flamencos passam a mostrar uma mistura de dança e teatro, incorporando técnicas de expressão corporal, dando ao baile uma acentuada violência, exagerando nas expressões faciais que nada condizem com a hondura.
Ritmos distintos, numa mescla de fusões musicais e de elementos coreográficos e técnicos, passam dentro do mesmo baile, e muitas vezes parecem estar num caminho de notória confusão com escobillas e taconeos extensos, movimentos de baços e mãos contrários à linguagem tradicional.
Charme latino
A professora e coreógrafa Yara Castro desenvolve um trabalho de orientação, ensinamento técnico e essência da linguagem Flamenca, através de cursos e workshops por todo o Brasil, com montagem musical do professor de guitarra Flamenca Fernando de La Rua.
Como fruto dessa vivência, nasce em Goiânia o Grupo Sociedad Flamenca, composto pelas bailarinas: Luciana Rodovallo, Míriam Nogueira e Rossana Naves. O grupo teve início de sua carreira no espetáculo Encuentros, em maio de 2001, apresentando-se em Morrinhos, Brasília e Goiânia. Participou do espetáculo 5 Momentos, em São Paulo, realizado pelo Espaço Flamenco Yara Castro (dezembro de 2001). Também obtiveram sucesso no espetáculo Aires Del Flamenco (abril de 2002), apresentando-se em Goiânia e Brasília, e em apresentações no festival nacional da dança – Fest Dança (maio de 2002).
Sensación Flamenca é o novo espetáculo que traduz o trabalho solo da bailarina Yara Castro, com montagem e concepção musical de Fernando de La Rua.
Diretora do Grupo Flamenco Laurita Castro há 13 anos, Yara teve sua origem clássica, passando por várias linguagens da dança, como o afro, o jazz, até optar pelo Flamenco como sua forma de expressão artística. Desde 1991, vai para Espanha participar de cursos com grandes nomes do Flamenco, como La China, Carmen Cortéz, Rafaela Carrasco, Antonio Canales, Manuel Reyes etc.
Atualmente ministra cursos por todo Brasil, afirmando cada vez mais sua forma muito peculiar de bailar, coreografar e interpretar o Flamenco. Possui em São Paulo o “Espaço Flamenco Yara Castro”, onde trabalha com seu grupo profissional e com o guitarrista Fernando de La Rua.
Também participa do show o guitarrista e diretor musical Fernando de La Rua. Filho de espanhóis, Fernando inicia sua pesquisa no Flamenco em 1987, e desde 1988 trabalha com Yara Castro. Acompanhou em gravações alguns artistas do cenário musical brasileiro, como Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Xororó, Roberta Miranda, sempre como solista convidado. Há cinco anos trabalha com a cantora Fortuna, em São Paulo, e vai anualmente à Espanha, desde 1991, trabalhar como guitarrista em vários tablados em Madrid, entre eles o Las Carboneras.
O guitarrista Tito Gonzales tem ascendência espanhola, iniciou seus estudos de Flamenco com Fernando de La Rua, com quem toca até hoje em trabalhos de dança e música instrumental. Dirigiu a parte musical do trabalho Amor Bruxo, em São Paulo, no Palace. Esteve em 1999 na Espanha, onde estudou com Gerardo Nunez, El Entri, Manolo Franco, entre outros.
José Fernandez é percussionista e cantor. Natural de Granada - Espanha, é gitano e pertence a uma das famílias mais tradicionais de Flamenco em Andaluzia. Trabalha com a arte Flamenca desde pequeno, seguindo as tradições de seus pais, e esta no Brasil a três anos. Miguel Alonso é cubano e vive no Brasil a três anos. Em Cuba se destacou em vários trabalhos em companhias de dança. Atualmente, atua como bailarino convidado e ministra aulas e cursos em todo o Brasil.
* Publicado no Diário da Manhã em 03 de abril de 2003
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