Sobre o quê escrever? O tempo passava e a folha branca parecia cada vez maior, até que o velho jornalista desatou o nó da garganta e explodiu em lágrimas. Seu choro convulsivo, contido por quase um século, atravessou a noite e lavou sua alma. O dia amanhecia e João foi andar pela praia, onde deitou-se embaixo de uma árvore e adormeceu.
No sonho, veio a distante infância. Filho de diplomata, o menino teve o privilégio de morar e estudar em vários países, conhecendo assim, diversas culturas. A mãe era muito católica e sempre exigiu que o garoto estudasse em colégios religiosos e freqüentasse a igreja.
A família tinha muito dinheiro, mas era generosa e seguia os princípios cristãos, que nortearam os rumos do repórter durante parte da sua trajetória. Veio a guerra. O pai de João morreu em combate, a irmã de tuberculose, a mãe de desespero e o cachorro de tristeza. O mundo desabara.
Os padres adotaram o pobre órfão adolescente. Revoltado e idealista, o rapaz queria gritar contra as injustiças do mundo, exigia paz e dignidade para todos. Desde cedo, traçou seus rumos e decidiu que estudaria jornalismo para ser o porta-voz dos marginalizados.
Passados alguns anos, João trabalhava em um jornal alternativo e militava em um partido de esquerda. Sempre comprometido com a justiça, nosso herói viajou por vários países. Ele não frequentava mais os palácios e nem tomava café em xícaras de ouro, como na infância. Optou por escrever a história do povo. Conheceu favelas, presídios, prostíbulos, réus, vítimas, bandidos e mocinhos. Tomava café em latinhas de massa de tomate e, junto com os padres ensinava as pessoas a lutarem pelos seus direitos.
A vida de João ficou mais leve quando ele encontrou Maria, a fiel companheira e melhor amiga. Foi essa bela moça de gestos simples que acendeu a chama do amor no coração do revolucionário.
Não demorou muito e foi deflagrada a guerra verde-oliva. João reviveu momentos de dor e desespero. Perdeu a companheira, o filho que estava para nascer e a identidade.
Depois de muitos anos, apareceu outra Maria, que trouxe o repórter de volta à vida e lhe deu um filho. Mais uma vez o coração ferido voltou a pulsar. A criança e a mulher amada lhe deram coragem para continuar. Mas a imprensa já não era a mesma.
O monstro verde-oliva tinha sido derrotado. Agora o monstro se vestia de verde-dólar. Mudou a tonalidade, mas o objetivo era o mesmo: destruir os adeptos do verde-esperança. Com mulher e filho para sustentar, João se conscientizou de que idealismo não enche barriga. Editor de um grande jornal, ele fazia malabarismos para manter a empresa. Aprendeu a jogar com o poder.
Muitos anos se passaram. Apesar de tudo, o velho jornalista ainda se indignava com as injustiças sociais. Entretanto, o que mais lhe atormentava era a falta de sonho dos jovens. Olhava para a redação e imaginava o futuro do País nas mãos de profissionais desprovidos de cultura, moral, ética e valores.
Cansada do marido que só pensava em trabalho, Maria redescobriu o fogo da paixão em outros braços. Acostumado a ter tudo nas mãos, o filho de João e Maria transformou-se em um vagabundo que só pensava em explorar o pai financeiramente.
Veio a aposentadoria e João começou a escrever um romance. Era a história de um jornalista humano, ético, revolucionário, que queria mudar o mundo através de suas reportagens. Seu protagonista acreditava que conscientizando o povo e educando as crianças, os corruptos não conseguiriam se eleger, e a história tomaria novos rumos.
Em certa altura de seu texto, João perdeu o fio da meada. Não conseguia entender o que havia acontecido. Sua cabeça estava pesada e confusa, algo havia se rompido. Por que, em tão pouco tempo, todos os sonhos se perderam? O que tinha acontecido? Por que as pessoas ficaram “tão básicas” e a juventude tão vazia? Ele não conseguira mudar o mundo. Será que sua trajetória não teria valido a pena? Um nó lhe apertou a garganta e, pela primeira vez, ele chorou. Adormeceu na praia e acordou ao lado da sua primeira Maria, com seu primeiro filho no colo e a esperança de um recomeço.
No sonho, veio a distante infância. Filho de diplomata, o menino teve o privilégio de morar e estudar em vários países, conhecendo assim, diversas culturas. A mãe era muito católica e sempre exigiu que o garoto estudasse em colégios religiosos e freqüentasse a igreja.
A família tinha muito dinheiro, mas era generosa e seguia os princípios cristãos, que nortearam os rumos do repórter durante parte da sua trajetória. Veio a guerra. O pai de João morreu em combate, a irmã de tuberculose, a mãe de desespero e o cachorro de tristeza. O mundo desabara.
Os padres adotaram o pobre órfão adolescente. Revoltado e idealista, o rapaz queria gritar contra as injustiças do mundo, exigia paz e dignidade para todos. Desde cedo, traçou seus rumos e decidiu que estudaria jornalismo para ser o porta-voz dos marginalizados.
Passados alguns anos, João trabalhava em um jornal alternativo e militava em um partido de esquerda. Sempre comprometido com a justiça, nosso herói viajou por vários países. Ele não frequentava mais os palácios e nem tomava café em xícaras de ouro, como na infância. Optou por escrever a história do povo. Conheceu favelas, presídios, prostíbulos, réus, vítimas, bandidos e mocinhos. Tomava café em latinhas de massa de tomate e, junto com os padres ensinava as pessoas a lutarem pelos seus direitos.
A vida de João ficou mais leve quando ele encontrou Maria, a fiel companheira e melhor amiga. Foi essa bela moça de gestos simples que acendeu a chama do amor no coração do revolucionário.
Não demorou muito e foi deflagrada a guerra verde-oliva. João reviveu momentos de dor e desespero. Perdeu a companheira, o filho que estava para nascer e a identidade.
Depois de muitos anos, apareceu outra Maria, que trouxe o repórter de volta à vida e lhe deu um filho. Mais uma vez o coração ferido voltou a pulsar. A criança e a mulher amada lhe deram coragem para continuar. Mas a imprensa já não era a mesma.
O monstro verde-oliva tinha sido derrotado. Agora o monstro se vestia de verde-dólar. Mudou a tonalidade, mas o objetivo era o mesmo: destruir os adeptos do verde-esperança. Com mulher e filho para sustentar, João se conscientizou de que idealismo não enche barriga. Editor de um grande jornal, ele fazia malabarismos para manter a empresa. Aprendeu a jogar com o poder.
Muitos anos se passaram. Apesar de tudo, o velho jornalista ainda se indignava com as injustiças sociais. Entretanto, o que mais lhe atormentava era a falta de sonho dos jovens. Olhava para a redação e imaginava o futuro do País nas mãos de profissionais desprovidos de cultura, moral, ética e valores.
Cansada do marido que só pensava em trabalho, Maria redescobriu o fogo da paixão em outros braços. Acostumado a ter tudo nas mãos, o filho de João e Maria transformou-se em um vagabundo que só pensava em explorar o pai financeiramente.
Veio a aposentadoria e João começou a escrever um romance. Era a história de um jornalista humano, ético, revolucionário, que queria mudar o mundo através de suas reportagens. Seu protagonista acreditava que conscientizando o povo e educando as crianças, os corruptos não conseguiriam se eleger, e a história tomaria novos rumos.
Em certa altura de seu texto, João perdeu o fio da meada. Não conseguia entender o que havia acontecido. Sua cabeça estava pesada e confusa, algo havia se rompido. Por que, em tão pouco tempo, todos os sonhos se perderam? O que tinha acontecido? Por que as pessoas ficaram “tão básicas” e a juventude tão vazia? Ele não conseguira mudar o mundo. Será que sua trajetória não teria valido a pena? Um nó lhe apertou a garganta e, pela primeira vez, ele chorou. Adormeceu na praia e acordou ao lado da sua primeira Maria, com seu primeiro filho no colo e a esperança de um recomeço.
Maria José Sá
17/04/2000
17/04/2000
Um comentário:
Que lindo Zezé!!!!
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